Reunião debate casa de acolhimento de dependentes
Em reunião realizada no último dia 2 de junho, no plenário da Câmara Municipal de Jataí, teve início o entendimento a respeito da união de várias entidades em torno de um projeto único para construção de uma casa de acolhimento transitório para recuperação de dependentes químicos e de álcool.
Na ausência do presidente da Câmara, Geovaci Peres, por motivo de viagem, o encontro foi conduzido pelo secretário da mesa diretora, vereador Mauro Bento Filho. Também participaram os vereadores Pastor Luiz Carlos e Vilma Feitosa, além da promotora de Justiça Lucinéia Vieira Matos, da representante da Coordenação de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, Soraia Maria de Rezende Vilela, do vice-presidente do Conselho de Pastores de Jataí, Lázaro Ramon de Morais, da presidente do Centro de Recuperação de Alcoólatras (Cerea), Nilza Peres e Sousa, do representante dos Alcoólicos Anônimos (AA), Plínio Antônio de Souza, do diretor do Centro de Recuperação Liberdade em Cristo, ligado à Assembleia de Deus, Gildenício Santos, do representante do Amor Exigente, Geneis Leal, e de outras pessoas ligadas a esses órgãos e entidades.
“Vamos tratar esta proveitosa reunião como um pontapé inicial para a realização do objetivo de todos”, afirmou Mauro Filho ao final das discussões, que tiveram início com o relato da representante do Ministério Público, Lucinéia Matos, a respeito da necessidade de Jataí contar com uma rede integrada para tratamento de dependentes químicos e alcoólicos. “Se não nos unirmos, será impossível atingir o objetivo principal”, disse ela, que defende uma rotina casa-Caps-casa para os pacientes. O município deverá contar também com um Caps-ad, especializado em álcool e drogas, com o objetivo de oferecer uma série de tratamentos médicos, terapêuticos e ocupacionais aos dependentes.
Prefeitura e Ministério Público formaram uma comissão para formular o Fundo Municipal de Combate às Drogas. Essa comissão foi dividida em quatro grupos, voltados para a prevenção ao uso, tratamento, reinserção à família e ao trabalho e políticas públicas de segurança. A promotora, que encabeça o grupo voltado para o tratamento, defende a criação de uma casa de acolhimento transitório, um local em que o paciente possa ter condições de restabelecer uma rotina e reorganizar-se mentalmente.
O vereador Pastor Luiz Carlos ressaltou os méritos da iniciativa, mas vê certa dificuldade em harmonizar as diversas visões religiosas que participariam do projeto. “Isso poderia causar mais confusão na cabeça de pacientes já fragilizados”, ponderou o parlamentar.
Para a coordenadora de Saúde Mental do município, Soraia Vilela, o aspecto religioso é apenas um foco do assunto. “Devemos oferecer um serviço para dar poder de escolha para o dependente”, disse ela. “O objetivo primeiro é combater a drogadicção e não conversão ou pregação. Depois de tratada, a pessoa estará capacitada a escolher”.
O empresário Geneis Leal, do Amor Exigente, considera que a espiritualidade deve ser trabalhada, não a religiosidade. “Tão grave quanto a dependência é a codependência. Devemos tratar o dependente e todos aqueles que o cercam”, aconselhou.
Lucinéia Matos é a favor de uma rotina única na casa, para os membros das diferentes religiões. “Nos momentos de religiosidade, cada um procura a sua”, sugeriu. A respeito de uma proposta de três casas diferentes, uma para cada doutrina religiosa, a promotora recordou que a falta de recursos financeiros para tal iniciativa é que motivou a ideia da casa única. “É por isso que estamos aqui nesta reunião”, concluiu.
A presidente do Cerea, Nilza Sousa, lembrou que a entidade recebe membros de todas as religiões. “Temos que cuidar do dependente, não dar feijão ou religião a ele”, afirmou.
A vereadora Vilma Feitosa concorda com os que dizem ser decisiva a questão da filosofia religiosa. “Mas o primordial é termos um ponto para tratamento físico”, asseverou. “Depois o paciente, já recuperado, vai buscar o lado religioso, em vez de se dar religião ao indivíduo em tratamento”.
Plínio de Souza falou sobre a experiência do AA, onde não se mistura o tratamento com religião, política e outros assuntos. “Estamos empenhados em livrar as pessoas da dependência. A cura está na mente de cada um”, afirmou.
O advogado Gildenício Santos, também superintendente de Habitação de Jataí, disse que o centro de recuperação ligado à Assembleia de Deus não foi criado para evangelizar. “A entidade não é uma extensão da igreja”, garantiu. “Melhor trabalharmos em torno de um objetivo sem nos preocuparmos com a metodologia”.
O vice-presidente do Conselho de Pastores, Lázaro Ramon de Morais, lembrou a laicidade do Estado e sua soberania para implementar projetos. “O Estado pode fazer o que é preciso fazer e pode contar com conosco no projeto, pois o Estado sabe que há uma guerra, uma batalha, com armas e tudo”, declarou, colocando a entidade da qual faz parte à disposição do poder público.
Sosteliam Fernandes, membro do Juizado de Menores, discorreu sobre a necessidade de se dar ocupação aos dependentes. “Temos que ensinar a pescar e não dar o peixe. Devemos que cuidar da formação, para que a pessoa em tratamento possa ter emprego no futuro, senão ela volta para a droga”, advertiu.
Ao final da reunião, Lucinéia Matos, mesmo constatando a dificuldade de se realizar um trabalho conjunto, devido às divergências entre as convicções religiosas, não se disse frustrada com o resultado da conversa. Ela pediu que as entidades interessadas em participar do projeto cadastrem-se junto à comissão formada pela prefeitura e pelo Ministério Público.
Geneis Leal sugeriu que os clubes de serviço e as entidades de classe do município também sejam procurados pelo grupo voltado ao tratamento. Soraia Vilela informou que as entidades serão ouvidas separadamente para que seja verificado o que cada uma tem para oferecer. Ao final, será marcada outra reunião para definir o que vai ser feito. Posteriormente, cada segmento será visitado e a decisão será repassada a todas as instâncias do município.